Economia Azul Sustentável é uma competência (skill) fundamental e transformadora

A Economia Azul Sustentável é uma competência (skill) fundamental para a progressão de carreira e para o desenvolvimento de empresas, organizações, comunidades e países.


Falar inglês é uma competência (skill). Gerir projetos e comunicar eficazmente são também competências. A Economia Azul Sustentável é uma competência fundamental e transformadora.

A Estratégia Nacional para o Mar 2021 - 2030 (ENM 2021-2030) está organizada em torno de dez grandes objetivos estratégicos (OE). De acordo com o seu texto, os objetivos estratégicos definidos são considerados desígnios nacionais, nos quais a economia azul pode marcar a diferença.

De facto, para um país como Portugal, com 97% do seu território coberto por água do mar e com uma zona económica exclusiva (ZEE) 18,7 vezes maior que o seu território terrestre, faz todo o sentido considerar a Economia Azul Sustentável como um desígnio nacional.

Importa desde já sublinhar que um desígnio não é apenas um simples e comum objetivo, antes um propósito inspirador e mobilizador, associado a grandes ideias e projetos, de envergadura estrutural e intemporal.

Não terá sido por acaso, que vários pensadores apontaram o mar de Portugal como um desígnio, um caminho para a edificação de uma sociedade dinâmica, equitativa e sustentável.

Por exemplo, no dia 1 de junho de 2023, em discurso de abertura de uma conferência dedicada ao mar, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que “(...) a estratégia do país para o setor [da economia azul] tem de ser global e encarada como uma espécie de desígnio nacional".

Afirmou ainda que entende "ser muito urgente que Portugal, que já tem uma estratégia nacional para a economia azul, consiga que essa estratégia nacional seja compreendida pelos portugueses, partilhada pelos portugueses, e passe às políticas públicas, e passe à sociedade civil", reforçando depois que as políticas externa, de defesa, económica e financeira, educativa, cultural, científica, tecnológica têm de estar focadas neste "desígnio nacional".

Finalizou, alertando para o facto de que "se depois as consequências não chegarem, não tocarem a realidade, não tocarem a vida do cidadão comum, significa, de certa maneira, continuar a adiar o nosso futuro".

Século Azul e Década do Oceano

Vivemos em pleno século azul e na década do oceano, um tempo caracterizado pela urgência climática e pelo consumo crescente e aparentemente ilimitado de recursos, num planeta que tem limites. De facto, não é tempo de “adiar o futuro”, sob pena de condenarmos as gerações futuras a pagarem a enorme “dívida” que receberão como legado.

Porém, pensar e falar não é missão suficiente; é preciso agir. E a ação deve ser partilhada, não apenas por alguns, mas por todos, como muito bem afirmou o Professor Marcelo Rebelo de Sousa.

Mobilizar pessoas e comunidades na concretização da economia azul sustentável como desígnio nacional, não é uma tarefa propriamente fácil. Além da necessária comunicação para múltiplos públicos, será necessário promover uma mudança cultural e estrutural no sistema de ensino e de qualificação.

Uma linha de ação eficaz para promover e alcançar os objetivos deste “desígnio nacional”, consiste em considerar a Economia Azul Sustentável como uma competência (skill). Esta competência pode e deve ser integrada de forma transversal em diferentes programas de ensino e formação – devidamente adaptada às especificidades e objetivos dos mesmos – constituindo um pilar estruturante das profissões, mesmo as ainda não inventadas.


Competência (skill)

Por definição, competência (skill) é:

  • Um Saber (conhecimento) que se aprende;

  • Um Saber-Fazer (habilidade) que se desenvolve; e

  • Um Saber-Ser, Saber-Estar, Querer-Fazer (atitude) que transforma.

Neste sentido, a Economia Azul Sustentável deve ser considerada como uma competência (skill) fundamental para a progressão de carreiras profissionais e para o desenvolvimento de empresas, organizações, comunidades e países.

A competência Economia Azul Sustentável inclui um conjunto de componentes temáticos, devidamente adaptados aos diferentes públicos-alvo, nomeadamente atividades económicas azuis; política e estratégia do mar; poluição marinha; alterações climáticas; sustentabilidade e economia circular; direito do mar e marítimo; ordenamento do espaço marítimo; regulação de zonas costeiras; ecossistemas de inovação; turismo azul; literacia do oceano e ensino do mar; carreiras azuis; benchmarking; estratégia e plano de ação; liderança e comunicação; empreendedorismo azul; investimento e financiamento; economia azul na União Europeia; e modelos de desenvolvimento, entre outros.


Conclusão

A Economia Azul Sustentável deve ser encarada como uma competência valorizadora e diferenciadora, a incluir e a destacar em qualquer curriculum vitae. Todas as empresas e organizações deverão valorizar candidaturas que incluam esta competência.

Se o não fizerem, então terá sido um mero devaneio ter declarado a economia azul como um desígnio nacional. As pessoas permanecerão distantes, dispersas e continuaremos – todos juntos – a “adiar o futuro”.

A Economia Azul Sustentável ultrapassa a mera conceção e análise de agrupamentos de setores de atividade económica.

A Economia Azul Sustentável significa pessoas, carreiras azuis, prosperidade, desenvolvimento sustentável. A Economia Azul Sustentável é uma competência (skill), sem dúvida valiosa, fundamental e transformadora.

Tendo o objetivo definido, apenas ficam por estabelecer metas e prazos. Que tal, até final de 2024, incluir a SKILL Economia Azul Sustentável (devidamente adaptada) em todos os Cursos de Ensino Secundário e de Ensino Superior? Se o fizermos agora, em 2030 – garantidamente – teremos alcançado melhores resultados na Agenda 2030 das Nações Unidas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). E muito mais e melhor economia azul sustentável, bem distribuída na origem, pelas pessoas e pelas organizações.


Texto: Álvaro Sardinha, junho 2023

Os temas abordados são desenvolvidos no Programa de Especialização e Liderança em Economia Azul (PLEA).