O que é a economia azul ❔ Entrevista ao Instituto Claro – Brasil

O Instituto Claro do Brasil convidou-nos a clarificar o que é a economia azul e que desafios e oportunidades existem para o planeta e para os cidadãos.

Reportagem Instituto Claro - Brasil

Aceitámos o desafio e respondemos a nove questões, de forma sucinta e fácil de entender. E aproveitámos para dar exemplos de excelentes iniciativas em Portugal, incluindo a literacia do oceano promovida pela DGPM; o projeto Ericeira WSR+10; e o projeto INOVSEA.

Apresentamos de seguida as respostas dadas às questões colocadas na entrevista. No final do artigo é partilhada a ligação para a entrevista publicada, que contou com a contribuição de Mariana Graciosa Pereira, mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e analista ambiental; Andrés Cisneros-Montemayor, docente da Escola de Gestão e Recursos Ambientais da Universidade Simon Fraser, no Canadá; e Álvaro Sardinha, mestre em Direito e Economia do Mar, fundador da iniciativa EconomiaAzul.

🌍 O que é a economia azul?

Economia azul é uma economia do mar sustentável, em termos ambientais, económicos e sociais. O termo sustentável aqui usado deve ser entendido na sua forma completa ou triangular, ou seja, garantindo a sustentabilidade simultaneamente nos domínios ambiental, económico e social.

Importa referir que a economia do mar inclui atividades económicas, indústrias e produtos que recebem insumos do oceano; atividades económicas, indústrias e produtos que fornecem bens ou serviços para o oceano; e atividades económicas que ocorrem no oceano. Inclui assim a pesca, a exploração de petróleo e gás offshore, o turismo e desportos náuticos, a construção naval, os portos e o transporte marítimo, entre muitas outras atividades.

🌍 Toda a economia azul é sustentável?

Por definição, se é economia azul, é sustentável. A economia azul constitui um modelo económico baseado no oceano, construído com base em infraestruturas, tecnologia e práticas social e ambientalmente conscientes, que apoiam e incentivam o desenvolvimento sustentável.

Economia do mar tem a ver com PIB, com exploração do oceano; economia azul tem a ver com conhecer, viver do oceano, viver com o oceano, proteger o oceano.

🌍 Pode indicar exemplos de atividades económicas sustentáveis baseadas no mar?

Qualquer atividade económica ligada ao mar pode ser considerada economia azul, desde que não ameace a sustentabilidade dos ecossistemas e a biodiversidade. Por exemplo, a pesca pode ser uma atividade da economia azul, se não exceder os limites de capturas e cumprir as regras adotadas para proteger o oceano e a renovação das espécies.

🌍 Quais os desafios para uma economia azul sustentável?

A fragilidade dos ecossistemas e da saúde marinha é hoje reconhecida. Se não for travada a degradação dos ecossistemas costeiros e marinhos e a perda de biodiversidade nos mares e oceano, poderá ser atingido um nível de constrangimentos com prejuízos irreversíveis.

Os principais desafios ou ameaças têm origem na sobrepesca e na perda de biodiversidade, expressa pela redução de espécies e destruição de habitats; no deficiente ordenamento das zonas costeiras; no lixo marinho e na poluição por plástico e outros contaminantes (despejo de efluentes industriais e domésticos; resíduos agrícolas); e no impacto das alterações climáticas (aumento da temperatura da água, acidificação, desoxigenação, aumento do nível da água do mar).

🌍 O que é preciso ser feito para estimular uma economia azul sustentável?

Promover a literacia do oceano é o primeiro passo a dar. É fundamental promover a educação de todas as camadas da população, não apenas os mais jovens, alertando para o facto de que apenas existe um oceano que nos liga a todos e que tem de ser protegido por todos (ver exemplo https://www.dgpm.mm.gov.pt/literacia-do-oceano).

É também fundamental aproximar pessoas e oceano, em particular através da sensibilização e promoção de atividades desportivas no mar para todos, como o surf, canoagem, remo, etc. (ver exemplo https://ericeirawsr10.com).

As empresas e as suas associações representativas têm também um importante papel a desempenhar, promovendo a inovação, a competitividade e o investimento (ver https://inovsea.pt).

🌍 O que impede que o setor se desenvolva?

A economia do mar assente nas atividades tradicionais, como por exemplo a pesca, construção naval, turismo náutico, exploração de petróleo e gás estão já enraizadas no mercado e sujeitas às regras e concorrência global.

Importa agora desenvolver as atividades emergentes, de elevado valor acrescentado, como a produção de energia renovável offshore, a bioeconomia e a biotecnologia azul, a digitalização e a descarbonização do transporte marítimo, e a evolução dos sistemas de ensino e de formação para a indústria 4.0 que vivemos.

🌍 Como os consumidores podem apoiar a economia azul?

Excelente questão. Passamos o tempo a criticar a poluição produzida pelos navios, mas na realidade são as cidades e os hábitos de consumo das pessoas os principais geradores de poluição e de gases com efeito de estufa.

É preciso promover a economia circular, repensando e reduzindo os consumos, reutilizando, recuperando e promovendo a reciclagem.

É preciso apoiar a economia local, comprando o que se produz na região, reduzindo a pegada ecológica.

É preciso promover a economia da partilha – menos ter e mais ser.

🌍 A economia azul está (ou pode estar) alinhada à realidade brasileira?

O Brasil é um país rico em recursos naturais e em talento humano. É também uma potência marítima com a 10ª maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) do mundo (3,67 milhões de quilómetros quadrados). A sua plataforma continental é vasta e estende-se por uma área superior à da ZEE (cerca de 5,7 milhões de km2), equivalente à área da Amazónia. Por esta razão, é conhecida por Amazónia Azul, tendo a vantagem de ser um espaço soberano.

O Brasil tem todas as condições para apresentar uma economia do mar pujante. Para que seja uma economia azul, basta que garanta a sua sustentabilidade, evitando os erros que se cometem atualmente na Amazónia, onde o capitalismo desenfreado e a ganância de alguns, têm conduzido à crescente destruição dos ecossistemas e à perda da biodiversidade.

🌍 Existe uma posição do Brasil em relação ao tema?

Sim. Tal como em Portugal, existem várias entidades da governação central e da governação local que reconhecem o valor que os mares e o oceano representam para a sociedade.

A Política Marítima Nacional do Brasil foi publicada em 1994 e encontra-se atualmente em fase de reformulação e atualização, por parte de um grupo interministerial. Adicionalmente, encontram-se em desenvolvimento várias estratégias regionais, com o objetivo de desenvolver a economia azul ao longo dos 7 491 quilómetros de extensão do litoral brasileiro.


Sobre o Instituto Claro

O Instituto Claro é responsável pelas ações de responsabilidade social corporativa da Claro. A sua missão consiste em conectar pessoas para um futuro melhor, através do investimento em projetos de educação e cidadania, que utilizam a tecnologia para o desenvolvimento humano, social e ambiental. As suas ações educativas já beneficiaram mais de 80 000 alunos.

Sobre a Claro

A Claro é líder em telecomunicações na América Latina e uma das maiores operadoras de multisserviços do Brasil, presente em todas as regiões do país. As suas redes disponibilizam serviços a mais de 96% da população.