A economia azul sustentável e regenerativa é – por natureza – uma economia colaborativa. De forma humilde e confiante, apoia-se nas economias laranja e verde; na economia circular; na economia donut; e na economia de Francisco.
A economia azul sustentável e regenerativa foca-se na utilização dos recursos aquáticos e na promoção do desenvolvimento económico, sem comprometer a saúde e a sustentabilidade do oceano, do planeta e das pessoas.
A economia azul sustentável e regenerativa é impulsionada por vários fatores: um oceano saudável e resiliente; biodiversidade protegida; saneamento básico; ecossistemas vibrantes; conhecimento; educação e desenvolvimento social inclusivo.
A economia azul sustentável e regenerativa reconhece as suas próprias limitações e complexidades, assumindo uma valiosa e ambiciosa missão. Os desafios que o planeta, o oceano e as pessoas enfrentam, assumem dimensão tal, que todas as ideias e energias são bem-vindas.
Consciente desta avassaladora realidade, a economia azul sustentável e regenerativa aplaude e acolhe – com infinita alegria – as generosas dinâmicas das economias laranja e verde; da economia circular; da economia donut; e da economia de Francisco.
Vale a pena saber mais.
Economia laranja
A economia laranja é um conceito ainda desconhecido por muitos – apesar da importância e da potência transformadora que lhe é atribuída.
A economia laranja representa a criatividade, a arte, a cultura e a inovação. O seu valor resulta da inspiração e atividade de pessoas curiosas, inquietas e criativas, que procuram acrescentar algo novo naquilo que fazem – na forma de produtos ou de serviços. A economia laranja promove ainda a transmissão de conhecimento e de cultura para as gerações futuras.
A economia laranja é também conhecida como economia criativa, termo citado pela primeira vez no livro The Creative Economy: How People Make Money from Ideas, do economista John Howkins.
Incluem-se na economia laranja, o valioso trabalho e contributos desenvolvidos por designers, escritores, arquitetos, artistas, músicos, programadores, cineastas, investigadores, chefs, fotógrafos, professores, entre muitos outros pensadores e criativos. O poder e responsabilidade destas pessoas são gigantescos: ao desenvolverem produtos e serviços amigos do planeta e do oceano – na origem – evitam problemas futuros; ao educarem e influenciarem comportamentos, contribuem para maior consciência da natureza e dos outros.
Consegue imaginar a economia azul sem a economia laranja?
ECONOMIA VERDE
O termo economia verde tem sido utilizado por múltiplas fontes, desde há décadas. Porém, ganhou maior popularidade e aceitação pela comunidade internacional, a partir do lançamento da iniciativa economia verde (Green Economy Initiative GEI), em 2008, pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (United Nations Environment Programme UNEP).
De acordo com esta organização, a economia verde inclusiva é uma alternativa ao modelo económico dominante de hoje, que gera riscos ambientais e de saúde generalizados; que incentiva o consumo e a produção de resíduos; que provoca escassez ecológica e de recursos; e que resulta em desigualdade.
A economia verde potencia e promove a sustentabilidade e a equidade social, como funções de um sistema financeiro estável e próspero, dentro dos contornos de um planeta finito e frágil. É um caminho para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, erradicando a pobreza e salvaguardando ao mesmo tempo os limites ecológicos, que sustentam a saúde humana, o bem-estar e o desenvolvimento.
Consegue imaginar a economia azul sem a economia verde?
Economia circular
O termo economia circular foi formalmente apresentado num modelo económico desenvolvido por David Pearce e Kerry Turner e publicado em 1989, com o título Economics of Natural Resources and the Environment. Partindo do princípio de que “tudo é insumo para tudo o mais”, os autores lançaram um olhar crítico sobre o sistema económico linear tradicional e desenvolveram um novo modelo económico, denominado economia circular.
Numa sociedade caracterizada pelo crescimento da população e por elevados níveis de consumo, a economia circular procura substituir o conceito de fim-de-vida dos produtos – típico da economia linear sequencial – por fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação. Os materiais são preservados, restaurados ou reintroduzidos no sistema de modo cíclico, com vantagens ambientais decorrentes da menor extração e importação de matérias-primas, redução na produção de resíduos e redução de emissões associadas.
De acordo com Ellen MacArthur – autoridade reconhecida no tema – a economia circular baseia-se em três princípios, impulsionados nas fases de design e conceção (economia laranja) de serviços e produtos:
Eliminar o lixo e a poluição;
Circular produtos e materiais (até ao máximo do seu limite); e
Regenerar a natureza.
Consegue imaginar a economia azul sem a economia circular?
Economia Donut
O conceito economia donut foi apresentado por Kate Raworth, economista e investigadora britânica, no artigo A Safe and Just Space for Humanity, publicado em 2012. O termo tem – desde então – alcançado amplo reconhecimento e influência internacional, na reformulação do desenvolvimento sustentável.
Em 2017 foi publicado o livro Donut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist, no qual Kate Raworth afirma e sustenta, que uma economia saudável deve ser projetada para prosperar, não para crescer. A economia donut tem assim como objetivo, atender às necessidades de todas as pessoas, dentro dos limites do planeta.
O modelo donut consiste em dois anéis concêntricos, definindo uma base social, para garantir que ninguém fique aquém do essencial da vida; e um teto ecológico, para garantir que a humanidade não ultrapasse coletivamente os limites planetários, que protegem os sistemas de suporte à vida na Terra. Entre estas duas fronteiras existe um espaço em forma de donut, que é ao mesmo tempo ecologicamente seguro e socialmente justo: um espaço no qual a humanidade pode prosperar.
O ponto central da economia donut consiste em mudar o objetivo do crescimento infinito do PIB, para o modelo de prosperidade e bem-estar apresentado no conceito de donut. De forma crítica, a economia donut apela à transformação das economias degenerativas de hoje em economias regenerativas.
Consegue imaginar a economia azul sem a economia donut?
Economia de Francisco
Em maio de 2015, o Papa Francisco promulgou a carta encíclica Laudato Sí – Sobre o Cuidado da Casa Comum, tratando do cuidado com o ambiente e com todas as pessoas, apontando um caminho em direção à sustentabilidade plena, no espírito holístico da ecologia integral.
O termo ecologia não é apresentado no significado do “verde”, do “azul” ou do “ambiente”, mas sim num sentido mais amplo, dinâmico e profundo de entendimento – a ecologia integral. Este conceito supera a fragmentação das ciências e assume que tudo forma um grande todo, com todas as realidades interconectadas, influenciando-se umas às outras. A ecologia integral assenta no princípio de que tudo está interligado e é interdependente, e que as dimensões humana, social, cultural, económica e ambiental da vida e das crises que vivemos, não estão separadas.
A economia de Francisco inspira-se nesta ecologia integral e procura olhar os desafios do tempo presente de diferentes perspetivas, considerando que não há só uma crise ambiental – mas sim uma crise socioambiental – que requer um olhar mais profundo para que as soluções concorram para o bem comum. Os desafios exigem que todos estejamos ao serviço da nossa Casa Comum – o planeta Terra – por uma nova economia que, nas palavras do Papa Francisco, "traz a vida e não a morte, que é inclusiva e não exclusiva, humana e não desumana, que cuida do ambiente e não o despoja."
Consegue imaginar a economia azul sem a economia de Francisco?
Conclusões
Agora que se encontra familiarizado com as 5 economias apresentadas – que colaboram e convergem para a construção de uma economia azul sustentável e regenerativa – consegue antecipar que não é sustentável manter o modelo tradicional da economia, focado na maximização alienada de lucros e no crescimento contínuo e infinito do PIB.
Como bem afirmou Robert Francis Kennedy, em 1968, no seu Speech on Beyond GDP:
“O produto interno bruto (PIB) não leva em consideração a saúde dos nossos filhos, a qualidade da sua educação ou a alegria das suas brincadeiras. Não inclui a beleza da nossa poesia ou a força dos nossos casamentos, a inteligência do nosso debate público ou a integridade dos nossos funcionários públicos. Não mede nem a nossa inteligência nem a nossa coragem, nem a nossa sabedoria nem a nossa aprendizagem, nem a nossa compaixão nem a nossa devoção ao nosso país, mede tudo em suma, exceto o que faz a vida valer a pena.”
O modelo económico vigente tem – necessariamente – de se adaptar às circunstâncias atuais, à demografia e aos limites do planeta.
Se tal não acontecer, as gerações e lideranças atuais serão para sempre recordadas, como as que roubaram o futuro aos próprios filhos e aos seus descendentes.
TEXTO: Álvaro Sardinha, 2024